sábado, 8 de dezembro de 2012

SC LUSITÂNIA E O FUTURO


Sobrevivência do Lusitânia
tem sido processo doloroso


 RUBEN SILVA alerta para a importância da Assembleia-Geral de hoje à noite
Ruben Silva admite que, no quadro atual, não há condições para manter o Lusitânia em atividade. Clube sobrevive apenas com quatro pessoas.







QUAIS SÃO AS EXPECTATIVAS DA COMISSÃO EXECUTIVA (CE) DO SPORT CLUBE LUSITÂNIA EM RELAÇÃO À ASSEMBLEIA-GERAL MARCADA PARA LOGO À NOITE?
Espero que sejam as melhores, mas é algo que não posso garantir. Ultimamente as pessoas têm saído defraudadas com as consecutivas Assembleias-Gerais, daí que, por vezes, sinta que entramos em algum descrédito em relação ao conteúdo e deliberação das mesmas. Agora, é um procedimento que temos que executar e esta é mais uma que se afigura deveras importante para o futuro do Lusitânia. Neste contexto, apelo aos sócios para que compareçam em massa. Como é do domínio público, o clube vive momentos muito difíceis e a ordem de trabalhos comporta matérias que podem reacender a luz ao fundo do túnel.
No que concerne ao ponto três, por exemplo, torna-se imperioso a permissão dos sócios para que a CE efetue uma primeira abordagem, junto das instâncias competentes, tendo em vista uma eventual candidatura ao Plano Especial de Revitalização (PER). Se não for este o entendimento da assembleia, continuaremos a tentar, no mínimo, levar a época desportiva até ao fim. Caso não estejam reunidas as condições para tal, a possibilidade de avançar de imediato para a insolvência é muito grande, a exemplo, aliás, do que esteve para suceder há pouco tempo.
O ENCERRAMENTO DO CLUBE É UMA AMEAÇA PERMANENTE?É um quadro que ganha cada vez mais força. O Lusitânia, infelizmente, não conseguiu passar à prática o tão badalado acordo de credores, devido às razões que são do conhecimento público. Sobreviver sem o referido acordo tem sido bastante doloroso - sobretudo para os quatro elementos da CE que gerem os destinos do clube -, atendendo a que nos falta a necessária estabilidade que permitiria, inclusive, liquidar alguns dos montantes em dívida. A pressão e o sufoco são terríveis.
NO PERÍODO DE TEMPO QUE MEDIOU ENTRE A ÚLTIMA ASSEMBLEIA E ESTA QUE PASSOS CONCRETOS FORAM DADOS, TENDO EM VISTA A SOLVÊNCIA DA INSTITUIÇÃO?A solvência do Lusitânia passa, acima de tudo, por um acordo de credores, o qual permitiria olhar para o clube com uma perspetiva otimista de presente e de futuro. Não tendo sido possível a sua concretização, o cenário tornou-se ainda mais complicado para todas as partes envolvidas.
Sem querer de forma alguma generalizar, a verdade é que alguns credores não demonstram a vontade necessária para viabilizar o clube, o que faria com que eles próprios pudessem usufruir das vantagens que referi anteriormente. Com um passivo que ronda os quatro milhões de euros, a gestão do Lusitânia torna-se impossível, até porque a conjuntura que o país atravessa é mais um óbice tremendo.
O Lusitânia vive, essencialmente, dos apoios públicos, só que, por imposição judicial, 25% dos valores atribuídos ficam retidos. Quanto aos privados, os apoios são cada vez menores. Esta CE faz das tripas coração para regularizar os compromissos, mas não nos peçam milagres. Aliás, é com orgulho que lhe digo que sempre cumprimos com todos os compromissos estabelecidos durante a nossa gestão. O problema prende-se com o elevado passivo acumulado.
A preocupação imediata é reunir as condições para que os objetivos desportivos traçados para a época em curso possam ser concretizados. A partir daí, se não surgirem soluções, os elementos da atual CE cessam funções. Claro que há, aqui, diversos fatores em cima da mesa, sendo o PER o mais pertinente. No entanto, estamos perante um processo complexo e nada nos garante que tenhamos o êxito pretendido.
INTRANSIGÊNCIA
SURGIU, ATÉ AO ENCERRAMENTO DO PRAZO ESTABELECIDO, 30 DE NOVEMBRO, ALGUMA LISTA INTERESSADA EM ASSUMIR OS ÓRGÃOS SOCIAIS DO LUSITÂNIA?
Não. Em várias assembleias, incluímos na ordem de trabalhos a eleição de órgãos sociais, só que nunca apareceu ninguém interessado em assumir os destinos da coletividade. Para lhe ser sincero, também não esperava que, desta feita, as coisas fossem diferentes, pois, neste momento, qualquer pessoa tem receio de fazer o que quer que seja em relação ao clube.
Todavia, é da mais elementar justiça realçar que, num determinado momento, houve um grupo de pessoas, de reconhecida credibilidade e competência, com uma lista preparada para avançar para os órgãos sociais do Lusitânia. Acontece que, mais uma vez, a falta de acordo com os credores abortou o projeto.
Inicialmente, os credores exigiam, para a consumação de um acordo que perdurasse no tempo, a eleição de órgãos sociais. Quando este passo estava praticamente consumado, fruto do esforço e boa vontade de imensa gente, fomos confrontados com novas exigências, numa espécie de volte-face, no mínimo estranho, em relação ao que havia sido estipulado. Com o arrastar do tempo e o aparecimento constante de novas exigências, essas pessoas foram-se afastando do clube.
A verdade é que, cada vez mais, o Lusitânia é gerido única e exclusivamente por quatro elementos. Para além de insustentável, é, convenhamos, uma autêntica loucura. As pessoas que estão à frente da instituição, para além do prejuízo profissional e familiar a que estão sujeitas (até porque muitas vezes os problemas do clube são transportados para a vida particular), confrontam-se, quase diariamente, com um enorme desgaste físico e emocional, pois as reuniões são constantes e, a cada uma, surgem novas diretrizes.
Estamos diante de um processo que não tem fim à vista, até porque, no que concerne à questão dos órgãos sociais, voltámos à estaca zero. São os mesmos de sempre que vão aguentando o barco, porque deram a cara e são pessoas de bem.
Claro que nos causa transtorno ter que interromper a época a meio, mas não estamos em condições de continuar a sustentar algo que, realisticamente, é insustentável. Surgiu um quadro que nos permitiu algum desafogo em termos imediatos, mas os problemas de fundo mantêm-se inalteráveis.
DIZER QUE PODEMOS ESTAR PERANTE A ÚLTIMA ASSEMBLEIA-GERAL DO LUSITÂNIA É MANIFESTAMENTE EXAGERADO?Aquilo que lhe posso adiantar, sem qualquer tipo de demagogia ou tentativa de pressão sobre quem quer que seja, é que poderemos estar perante uma das últimas assembleias do clube. Faltam cinco/seis meses para terminar a época e, caso entretanto não surja nenhuma forma de viabilizar o Lusitânia, é ponto assente que os atuais dirigentes estão de saída.
Estamos disponíveis para albergar ou entregar o clube a pessoas com ideias e projetos novos. Admitimos, inclusive, que, em função do desgaste a que somos sujeitos, as nossas ideias possam já não ser as mais adequadas. Agora, temos a plena consciência de que demos sempre o nosso melhor em prol de uma instituição que é uma referência no desporto e na sociedade açoriana. No cenário vigente, pouco mais nos resta do que encerrar o Lusitânia.
AUSÊNCIA DE PERSPETIVAS FUTURAS
Luzes de esperança
apagam-se facilmente

POR QUE É QUE A DELIBERAÇÃO DA ÚLTIMA ASSEMBLEIA-GERAL - QUE APONTAVA PARA O INÍCIO DO PROCESSO DE INSOLVÊNCIA DO LUSITÂNIA CASO NÃO HOUVESSE ACORDO COM OS CREDORES - FOI DESRESPEITADA?Não houve qualquer desrespeito pela deliberação da Assembleia-Geral. Para além de termos achado por bem não colocar em causa toda a atividade da própria coletividade, foram criadas as condições para resolver os problemas imediatos. A questão de fundo é a ausência de perspetivas futuras, atendendo ao elevado passivo e à intransigência de alguns credores. As poucas luzes que se acendem ao fundo do túnel são demasiado intermitentes e apagam-se com enorme facilidade.
É triste ver desaparecer um património humano, desportivo e social de tamanha dimensão e historial. O encerramento do Lusitânia torna a nossa sociedade mais pobre. A força que muita gente, radicada nos quatro cantos do mundo, nos transmite é um alento sobremaneira importante, mas insuficiente em face da realidade com que somos confrontados.

 "LUSITÂNIA pode não chegar ao final da época", admite Ruben Silva

In, DI 07.12.2012

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