domingo, 24 de fevereiro de 2013

REPORTAGEM COM MOCOCA PACHA


MOCOCA PACHÁ

SAUDADES DO PRAIENSE


Por vezes surpreendemo-nos, ou deixamo-nos surpreender por essa janelinha fria de relacionamento a que convencionaram chamar de rede social. Porque volta e meia acontece algo inesperado, fora de um plano de pesquisa previamente estabelecido, muito longe de qualquer tentativa de encontrar algo de concreto. Os olhos percorrem as publicações no facebook sem muita vontade de observar, mas o scroll do rato imobiliza-se, forçando os olhos a olhar. Mococa Pachá. Nome familiar. "Sou da Praia da Vitória, adepto e sócio do Praiense e devo dizer que para mim você foi o melhor jogador que vi jogar neste clube. Espero que esteja bem!". O comentário é quase como um click. Deixamos o "modo-surpresa" e entramos no "modo-jornalístico". E fomos ver se estava bem...
Mococa Pachá foi jogador do Sport Clube Praiense no início da década de 90 do século passado. Chegou à Terceira em 1992, mais precisamente pela mão de Coentro Faria, proveniente do Valenciano. Muitos se lembram de um brasileiro genial. Um recorte antigo de jornal reaviva a memória. "A vantagem de ter um génio", lê-se no título da análise individual aos jogadores. Jogo frente ao Angrense, com vitória do Praiense. A Moukouka (é assim que vem escrito na peça) chamam de "artista que voltou a encantar" e com "chancela de génio". Termina assim a análise à sua prestação: "O golo do empate, aos 38 minutos, é simplesmente soberbo. Trocou as voltas a Fausto e, depois, lançou um autêntico petardo dum ângulo incrível (quase junto à linha final!!!). Enfim, coisas de génio..."
Mensagem para o Brasil. Resposta logo depois. Mococa Pachá continua ligado ao futebol. "Amo estar dentro de campo" é uma das suas primeiras frases. Esteve "empresariando", como o próprio refere, mas não conseguiu recusar uma proposta para treinar uma equipa de juniores que, conta, disputa "campeonatos com grandes clubes". Esteve três épocas no Praiense. "Me machuquei no primeiro jogo do campeonato, não me recuperei e queria jogar. Por está machucado, não estava nas minhas condições físicas, mas todos conheciam o meu valor. Surgiu uma proposta do Santa Clara. Sai contra minha vontade". Discurso direto, sem alterar o sotaque brasileiro do ex-jogador que, em 1993/94, ajudou o Praiense a subir à 2.ª Divisão "B".
Bom futebol, jogadores evoluídos tecnicamente e grandes espetáculos. Frente a equipas do continente, as disputas era mais acérrimas. Lembranças que Mococa Pachá ainda guarda. "Não me sai da memória. Foram lembranças muito boas", confessa. "Quando cheguei no Praiense, fazia muito tempo que o clube não ganhava ao Angrense nem ao Lusitânia. Na época, eram clubes com orçamentos bem mais altos, tal como o Santa Clara e o Operário. Nunca perdi para eles. Todos os clássicos foram importantes para mim e lembro com saudade o golo que marquei contra o Operário, aos 89 minutos, que deu ao Praiense a esperança de subir de divisão. Fiz amizades com todos. Roldão, Galvão, Luiz Filipe, Albano, Calo, Guilherme, Mário Faria, Paim, Chalana, Zé Carlos, José Pimentel, Tiago Ormonde, Ernesto e Miranda. Não tive dificuldades de adaptação porque fui bem recebido por todos. O clube, os torcedores, as pessoas... Tudo está na minha memória e no meu coração. Eu amo o Praiense. Não dá para esquecer os momentos que passei na ilha. Fui bem recebido também pelas pessoas do Angrense e Lusitânia", recorda.
Mococa despertou para o futebol no Olaria Atlético Clube, onde chegou pela mão de... Romário. Chegou à seleção de juniores e assumiu o profissionalismo aos 18 anos. Ainda esteve emprestado ao Guaratinqueta, de São Paulo, antes de rumar a Portugal, para o Rio Ave de Mário Reis. "Queriam ficar comigo, mas o empresário pediu um valor muito alto. Minha esposa, filhos, minha mãe, irmã e meus amigos, como o Romário e seu falecido pai, o Ailton, ex-Flamengo, Deninho, Sérgio, Coentro Faria e Galvão, todos os jogadores que jogaram comigo essas três épocas no Praiense e todos os torcedores. Gente que marcou a minha carreira", afirma Mococa.
Hoje, com 46 anos, admite que não sabe muito sobre o Praiense, mesmo que nunca tenha deixado de acompanhar a vida do clube. Diz-nos que gostaria de ver uma equipa terceirense no principal  jogadores jovens para grandes clubes no Brasil e vi que os treinadores deixam muito a desejar. Aos jovens não se ensina a jogar à bola. Eles já nascem com o dom. Você apenas lapida. Mas hoje em dia só querem jogadores grandes e fortes. Contam-se pelos dedos jogadores como Romário, Ronaldo, Figo, Cristiano Ronaldo, Messi ou Iniesta", conclui Mococa Pachá. Um génio que passou pelo Praiense.

In, DI 24.02.2013

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